
Miguel Lucena
Dona Teresinha completa 93 anos com a lucidez de quem atravessou o século enfrentando muitos desafios. Perdeu os pais menina, viu ditaduras irem e virem, presidentes se matarem ou serem depostos, enfrentou preconceitos, superou abandonos e criou filhos com dignidade. Quando quase nenhuma mulher ousava, ela ousou: largou o marido e seguiu, altiva, com a coragem de quem prefere a liberdade ao conformismo.
Testemunhou a descoberta da penicilina, a chegada do homem à Lua, o rádio virando TV, o fio do telefone virando tela na palma da mão. Fez-se conselheira do povo, psicóloga sem diploma, amiga dos desesperados. Salvou vidas com palavras simples, amorosas. Nunca se entregou à lamúria, mesmo nos dias duros. Recebeu a mim como a um filho, me ensinando que família também é afeto partilhado.
Aos 93, segue vitoriosa. O pão pode estar caro, a liberdade acanhada, mas Dona Teresinha sabe — e nos ensina — que viver vale a pena. Sempre vale.