
Miguel Lucena
No 13 de maio de 1888, o grito de liberdade ecoou pelas senzalas e quilombos. Princesa Isabel assinava a Lei Áurea, e os escravos saíam pelas ruas como se o céu tivesse descido à terra. Houve festa, dança, lágrimas. Afinal, depois de mais de três séculos de cativeiro, estavam livres. Mas a liberdade que veio no papel não veio com terra, teto nem trabalho.
No dia seguinte, a realidade se impôs: sem casa, sem comida, sem direitos. Muitos foram expulsos das terras onde viveram e trabalharam. Os senhores de engenho, agora sem a “mão de obra gratuita”, não queriam saber dos ex-escravos por perto. A liberdade virou abandono. Não houve reforma agrária, nem política de inclusão, nem desculpa. Houve silêncio.
E ainda hoje tem quem diga que a sociedade não deve nada aos negros, como se séculos de açoite pudessem ser apagados com uma assinatura. O 13 de maio deveria ser lembrado, não como um ponto final na escravidão, mas como o início da dívida histórica que o Brasil ainda se recusa a pagar.